Essa é mentalidade italiana: você concorda?

Hoje aqui vou generalizar e falar sobre a mentalidade italiana, aquelas características sobre o “povo italiano”. Como eles pensam? Como eles agem? Depois de mais de 15 anos morando na Italia hoje me deu vontade de fazer essa lista, totalmente subjetiva, comparando os brasileiros com os italianos. Quer opinar? Pode comentar, todas as opiniões que sejam respeitosas serão mantidas.

Índice do artigo:
1 – Não existem acidentes: quem foi o responsável?
2 – Sinta-se amparado: Mamma Italia vai cuidar de você
3 – Na escola todos tem que ter o mesmo nível
4 – O sonho da estabilidade no emprego
5 – O sucesso não é sempre visto com bons olhos

mentalidade italiana

1 – Não existem acidentes: quem foi o responsável?

É claro que os italianos sabem que desastres podem acontecer, mas exatamente porque sabem que podem acontecer eles tem a pretensão que devem ser previstos e evitados. Sempre que acontece algum acidente ou contratempo os italianos vão procurar um responsável pelo fato do desastre ter provocado mortos ou destruição de patrimônio. Até porque não faltam regulamentos e normas na Italia e na Europa. Mas vamos dar alguns exemplos:

a) Terremoto: tem um terremoto, destrói uma cidade, com feridos. Você acha que foi uma tragédia natural e vai ficar por isso mesmo? Nada disso. Se teve o terremoto é porque o território se encontrava em área sísmica. Se estava em área sísmica os edifícios deveriam ser construídos de forma x,y,z para serem mais resistentes e as construções mais antigas deveriam ter feito um procedimento h,i,j para evitar desmoronarem. Então começa uma série de procedimentos para verificar porque o edifício tal desmoronou como por exemplo: quando foi construído o prédio? quem construiu? foram aplicadas as medidas à norma? se não foram aplicadas, por quê? Teve omissão de controle? Quem deveria controlar porque não controlou? E por aí vai.

b) Pandemia: o coronavirus pegou todos de surpresa. Mas será mesmo? A União Europeia sabia que pandemias poderiam acontecer e por isso cada país membro deveria apresentar um plano pandêmico para poder agir rapidamente e evitar o desastre e o caos. Acontece que não foi isso que aconteceu. Pegaram um plano pandêmico de 2007, fizeram cópia e cola e a cada vez reapresentavam o mesmo plano com data nova fictícia. Os principais programas jornalísticos fizeram questão de martelar o quanto esse pouco caso provocou a morte de muitos inocentes. Abaixo um dos vídeos de programa de Rai3, Report:

A única coisa é que nem sempre os “responsáveis” são punidos…

2 – Sinta-se amparado: Mamma Italia vai cuidar de você

Não importa o que aconteça, para um cidadão italiano nunca vai faltar um teto, um prato de comida e atendimento médico. Pelo menos é essa a sensação que eu tenho morando aqui. Pode acontecer o maior desastre mas um italiano espera que o Estado Italiano esteja lá para proteger os mais frágeis da sociedade.

Esses dias li uma notícia do jornal El País sobre o Brasil com o título: “Não é doença, é fome” onde falavam sobre as consequências da pandemia na vida de brasileiros que perderam trabalho e ao procurarem atendimento médico, os profissionais descobrem que não é doença, mas sintomas de quem não tem mais acesso a alimentos com frequência. Uma notícia terrível: muito triste ver que pessoas são abandonadas a (falta de) sorte em uma sociedade contemporânea com fartura e abundância.

Aqui na Italia a pandemia também foi tremenda e muitas famílias perderam trabalho e renda. Inclusive existem dados estatísticos que comprovam que em 2020 aumentou a pobreza na Italia. Mas estes dados são usados para saber em que setores o governo deve atuar para ajudar os mais desamparados. E pode ser através de um subsídio como o Reddito di Cittadinanza ou o Reddito di Emergenza.

Durante a pandemia na Italia, as crianças foram submetidas à didática à distância e se em um primeiro momento foi um choque total, na segunda etapa a partir de setembro de 2020 todas as crianças tinham um dispositivo eletrônico para participar das aulas. Se não tivessem poderiam solicitar a escola, que fornecia gratuitamente um computador ou tablet com conexão a internet. Pelo menos aqui na Toscana onde moro. Além disso o governo também disponibilizou o Bônus Internet / PC para famílias residentes na Italia.

Outro ponto positivo é que as famílias mais carentes tem acesso a um auxílio para pagar o aluguel ou podem receber uma casa popular ou ainda durante a pandemia foram criados centros de acolhimento de emergência para quem ficou sem casa de uma hora para a outra. Ou existem parcerias público-privado para amparar os mais frágeis. Aqui por exemplo um comunicado do Comune onde moro na Toscana:

O objetivo é que uma pessoa com falta de oportunidades nunca tenha que roubar, matar e prejudicar outras pessoas porque não tem acesso ao básico. E dessa forma ajudar não apenas quem tem menos, mas também quem tem mais, que poderá ter uma vida mais tranquila e segura.

São tudo flores? Claro que não. Durante a pandemia covid-19 muita gente sofreu seja do ponto de vista de saúde, como econômico e psicológico, inclusive tivemos notícias trágicas como o Suicídio em agência de viagem na Italia (e este não foi o único caso).

3 – Na escola todos tem que ter o mesmo nível

Uma das frases que mais escuto das professoras de minhas filhas nas reuniões de pais é que “nenhum aluno vai ser deixado para trás”. Nas escolas públicas italianas existe uma tendência de querer que todos os alunos atinjam o mesmo nível para que possam prosseguir com o conteúdo.

Isso pode ser fantástico porque visa a uma inclusão social. Mas por outro lado pode ser muito limitante também. Se o seu filho cair em uma classe de alunos medíocres ou pouco interessados, a classe vai ficar sempre no mesmo nível e o nível pode ser mais baixo do que o esperado.

A sensação é que não existe espaço para a meritocracia, para incentivar o talento. Então o que acontece: as professoras vão continuar falando para todos que tem que estudar e tal. De repente 80% da classe não está interessada e vai continuar agindo da mesma forma: sem fazer as lições, estudar, etc. E os bons alunos não são premiados e podem acabar desmotivados.

Mudar o filho de classe ou de escola nem sempre é uma opção, seja porque o processo de ambientação nem sempre é rápido ou fácil para as crianças, seja porque muitas cidades menores não tem tantas opções de escola assim. Então a gente tem que aprender a lidar com isso e tentar criar o estímulo com atividades extra-escolares.

Não sei se nas escolas particulares italianas funciona da mesma forma. Mas nem sempre existem opções de escolas particulares fora das grandes cidades e muitas vezes quando existem escolas particulares, são escolas associadas a uma religião, o que nem sempre os pais querem.

4 – O sonho da estabilidade no emprego

Entre ganhar na loteria ou conseguir estabilidade no emprego acho que muitos italianos optariam pela segunda opção. Existe uma cultura italiana de buscar o emprego seguro, com um contratto a tempo indeterminato que dê garantia de uma renda estável e segura até a aposentadoria. E provavelmente eles estão certos já que a maior parte dos benefícios do governo é pensada para quem tem/teve este tipo de contrato de trabalho estável (ou eventualmente perdeu devido a uma falência ou reorganização da empresa).

Quem se arrisca a empreender ou é um louco que não sabe dos riscos que está correndo ou é herdeiro. E realmente a Italia tem tantas regras burocráticas e custos que realmente não é fácil abrir uma empresa. Ou melhor, abrir até é fácil. O problema é como sair da enrascada depois.

Aliás, acabei de lembrar de um filme italiano recente muito interessante do Checco Zalone chamado Tolo Tolo. O Checco Zalone tem um talento natural para falar de coisas profundas de forma bem humorada. O personagem do Checco no filme Tolo Tolo abriu uma empresa que não deu certo e para se livrar dos perrengues acabou fugindo para a África. Se você tiver oportunidade, assista.

5 – O sucesso não é sempre visto com bons olhos

Os italianos adoram lembrar das glórias e sucessos das grandes personalidades do passado, mas quando uma pessoa faz muito sucesso no presente (inclusive econômico) existe sempre aquela visão desconfiada como se a pessoa de sucesso tivesse feito alguma coisa de ilícito e não fosse resultado de capacidade, talento.

Seria como se buscar o sucesso econômico fosse quase uma coisa negativa, como se tivéssemos que buscar um “bem maior” do que exclusivamente um bem estar econômico.

Muito interessante essa entrevista do Marco Montemagno com Joe Bastianich onde falam sobre o mundo dos restaurantes nos EUA x Italia. Quando Montemagno pergunta “qual a diferença entre fazer business com restaurantes nos Estados Unidos e na Italia?” o Bastianich comenta: “Para começar: ter um restaurante nos Estados Unidos é um negócio, fazem as contas, buscam o lucro. Na Italia quem prepara comida deve ser um artista, deve fazer sem pensar em lucro…” Vale assistir:

Por hoje vou encerrar as comparações por aqui. Espero que possam ser úteis para refletir sobre qualidade de vida na Italia em relação a outros países no mundo.

Leia também: O que eu mais gosto e o que eu menos gosto da Italia (depois de 15 anos morando na Toscana)


Publicidade:


Artigo escrito por:
Avatar de Barbara Bueno

Publicado

em

por

Tags:

código de indicação Binance 20% de desconto taxas spot para sempre

Abra sua conta na Binance através deste link e ganhe 20% de desconto nas taxas nas negociações spot. Certifique-se que inseriu o seguinte referral id: IX4YCBJL

CARTÃO CRYPTO.COM APP REFERRAL
https://crypto.com/app/zcjm3945gg para criar sua conta Crypto.com e ganhe USD 25,00 em CRO

Compre online na Loja Amazon Brasilnaitalia

Procurando um lugar onde se hospedar nos seus primeiros dias de Italia?

Utilidades

Seções do site

Os mais lidos

Cidades da Itália

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *