A escassez de profissionais da saúde tem sido tema constante na mídia italiana, e o alerta mais recente veio de uma reportagem publicada pelo jornal Il Messaggero em 10/11/2025. Segundo o artigo assinado por Mauro Evangelisti, o sistema sanitário italiano corre o risco de enfrentar um verdadeiro colapso nos próximos anos: até 2027, faltarão cerca de 25 mil médicos e enfermeiros nos hospitais públicos.
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Menos jovens, mais aposentadorias
A reportagem revela que cada vez menos jovens italianos escolhem seguir carreiras na área da saúde.
As inscrições nos cursos de enfermagem diminuíram em dois terços nos últimos doze anos. Em 2012, havia 2,7 candidatos por vaga; em 2025, o índice caiu para 0,9. Isso significa que há mais vagas do que interessados — e, considerando que cerca de 30% dos alunos não concluem o curso, a falta de profissionais tende a se agravar.
Entre os médicos, o cenário não é diferente. Segundo o Istat, 44,2% dos médicos em atividade na Itália têm mais de 55 anos e 20,6% já ultrapassaram os 65 — porcentagem muito superior à observada em países como França, Alemanha e Espanha.
A consequência é o envelhecimento do corpo clínico e a ausência de renovação nas especializações consideradas menos atrativas.
Especializações “vazias” e fuga para o exterior
De acordo com dados da Anaao-Assomed, sindicato dos médicos hospitalares, 17% das bolsas de especialização médica oferecidas em 2025 não foram preenchidas — um dado preocupante.
As áreas mais afetadas são medicina de emergência e urgência, radioterapia, anestesia e anatomo-patologia. Em alguns casos, como microbiologia e farmacologia, até 80% das vagas ficaram sem candidatos.
Enquanto isso, especializações mais lucrativas e com maior prestígio, como dermatologia, pediatria e cirurgia plástica, continuam superlotadas. Essa distorção cria um “buraco negro” no sistema de saúde pública, com carência de profissionais justamente nas áreas de maior necessidade.
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Além disso, muitos médicos e enfermeiros formados optam por trabalhar no setor privado ou no exterior, onde os salários e as condições de trabalho são melhores.
Um enfermeiro na Suécia, por exemplo, ganha significativamente mais do que na Itália, o que compensa até mesmo o custo de vida mais alto.

Uma questão estrutural e geracional
O doutor Paolo Petralia, vice-presidente da Fiaso (Federação das Empresas Hospitalares Italianas), aponta que o problema não é recente: “Há pelo menos dez anos faltou planejamento adequado. As medidas que tomamos hoje só trarão efeitos a longo prazo”, afirmou ao Il Messaggero.
Petralia destaca também uma mudança de mentalidade entre os jovens profissionais, especialmente da geração Z, que já não aceita jornadas desumanas nem baixos salários em troca de uma suposta vocação. Hoje, quem escolhe a medicina quer também qualidade de vida, respeito e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal — algo ainda distante da realidade em muitos hospitais italianos.
Uma urgência nacional
A falta de profissionais de saúde ameaça diretamente o funcionamento do Serviço Sanitário Nacional (SSN). Com menos médicos e enfermeiros, o risco é de sobrecarga dos profissionais atuais, aumento das filas e queda na qualidade do atendimento.
Os sindicatos pedem ao governo que repense a formação médica, melhore os salários e torne o trabalho nos hospitais públicos mais atrativo. Caso contrário, o déficit estimado de 25 mil profissionais até 2027 pode ser apenas o começo de uma crise ainda maior na saúde italiana.
Se você trabalha na área de saúde na Itália, comente abaixo contando a sua experiência.


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